Incêndio: a segurança em edificações é real?
07/06/19 08h21
É cada vez mais notório e sucessivo o número de incêndios que vem ocorrendo no Brasil; expressivo também se tornou as suas proporções sejam elas contabilizadas pelos danos materiais, sociais, econômicos e de morte causadas pelos eventos. Tal fato, trouxe à tona questões quanto a realidade da segurança contra incêndios nas edificações. Essa situação alarmou o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que através do seu Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões – LSFEx, ao longo dos últimos anos, tem encontrado em suas pesquisas de campo, uma realidade que muito explica os eventos relacionados a incêndios que estamos enfrentando: o mau desempenho generalizado das instalações dos sistemas protetivos contra incêndio. Normalmente, o que se vê, são a disponibilidade dos equipamentos exigidos na regulamentação para as situações de risco avaliadas, mas nenhum em concordância com o desempenho exigido nos documentos técnicos das normas técnicas e Instruções Técnicas; configura-se assim, uma falsa sensação de segurança contra essas possíveis intercorrências.
Deixar as edificações aptas quando o assunto é segurança contra incêndio requer investimentos que se estendem desde o projeto até o uso. O LSFEx, em suas pesquisas buscou sistematizar suas avaliações de campo envolvendo sistemas de proteção contra incêndio com foco principal em edificações de reuniões de públicos, de armazenamento e de escritórios. Os quesitos principais avaliados, foram: sistemas de detecção e alarme, sistema de proteção por extintores, sistemas de hidrantes e respectivas mangueiras, sistemas de sprinklers, sistemas de iluminação de emergência, etc. Abaixo, vamos pontuar algumas das conclusões das avaliações desses itens.
DETECÇÃO e ALARME
Ao avaliar tal item que esteja em operação, o que se espera é que eles permaneçam em perfeito funcionamento; e isso significa ter sido confiado a profissionais especializados (desde o projeto a instalação dos aparelhos), que os sistemas passem por constantes manutenções, além de acompanharem sempre as mudanças que os edifícios passam ao longo de suas vidas úteis; outro ponto fundamental, é que as equipes de responsáveis pela segurança. Dos 30 sistemas inspecionados pelo Laboratório nos últimos 04 anos, nenhum apresentou uma proposta consistente com os riscos aos quais as edificações estavam expostas, seja pelas características de suas construções seja pela função que o sistema deveria cumprir. O primeiro ponto negativo está ligado ao local escolhido para essas instalações com difícil acesso (salas fechadas, subsolos, áreas com riscos de incêndio e sem a presença humana); um segundo apontamento foi a falta de compatibilidade da lógica de acionamento dos alarmes (que deveriam ser registrados e de conhecimento dos responsáveis) com os riscos e aos planos de emergência e de abandono da edificação, o que pode acarretar em dificuldades extras ao combate e a evacuação do local.
Uma terceira falha crítica é a falta de registro de ocorrências desses sistemas, o que auxilia a validar eventos reais ou falsos e de eventos associados a falhas; o problema advinha de origem ou de programação. Além disso, as centrais não eram devidamente monitoradas por colaboradores treinados e específicos para a função; além disso, toda a linguagem do sistema era sinalizado em língua estrangeira e os manuais não estavam dispostos para um acesso facilitado; também não foram localizados avisos com datas das últimas manutenções sinalizando as próximas vistorias necessárias nem dados quanto a procedimentos a serem seguidos em caso de defeitos. Já para os acionadores manuais, uma grande gama de problemas foi observada, porém dois deles, ganharam destaque: equipamentos instalados em circuitos desativados e que não apresentavam as luzes LED indicativas de atividade (verde) ou alerta (vermelho) impossibilitando a identificação do real funcionamento por parte dos usuários.
Os detectores de fumaça, item indispensável nos sistemas de segurança, afetaram todos os sistemas em análise seja por um ou mais fatores sinalizados a seguir: altura de instalação em demasia (fumaça em princípio de ncêndio não alcança o equipamento); estratificação da fumaça no local de origem do fogo (fenômeno que impede que os gases gerados na combustão alcance os detectores); acúmulo de sujeira nos equipamentos; instalação de sensores próximos a dutos de ventilação que afastam a fumaça; desativação parcial ou total de circuitos de detecção. Os equipamentos também passaram por teste previsto pela ABNT (ABNT NBR 17240) para avaliar a sensibilidade dos detectores, das 76 simulações realizadas, apenas em 33% a fumaça foi detectada pelos sistemas instalados; nos outros 57% dos testes a fumaça foi identificada tardiamente ou nem chegou a ser localizada. Um ponto importante a ser sinalizado e que deve passar a evitar problemas como esses, antes dos equipamentos estarem em uso, foi a mudança prevista no final de 2018 na regulamentação de segurança contra incêndio do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo que passou a exigir uma avaliação técnica final (comissionamento).
EXTINTORES DE INCÊNDIO
Em relação a esse item, todas as 36 edificações vistoriadas pelo IPT apresentaram extintores com periodicidade adequada, pelos procedimentos de manutenção e que esse serviço havia sido realizado por empresas credenciadas e regularizadas pelas normas do Inmetro nº 206/2011 e nº 300/2012. Além disso, os sistemas de segurança dos 36 empreendimentos, haviam passado pelos processos de análise e vistoria por parte do Corpo de Bombeiros.
Os extintores foram avaliados quanto aos seguintes critérios: tipo de agente extintor, a carga nominal e a capacidade extintora declarada. Dos 3247 extintores analisados, 39,3% correspondiam a com conteúdo de pó químico BC; 36,2% a base d’água; 22,3% de gás carbônico e 2,2% de pó químico ABC. Desses extintores, constatou-se que 35,3% não apresentavam a capacidade extintora regulamentada no Decreto Estadual nº 56.819/2011, e por isso, descumpriam a IT-21 do Corpo de Bombeiros sem ter condições de estarem disponíveis nesses sistemas. Além dessa situação, foi possível observar a presença de extintores de vários modelos e fabricantes diferentes; isso se deve ao fato de não existir uma lógica de instalação por um projeto executivo, dinâmicas de intervenções nos sistemas e pela inexistência de diretrizes de preservação dos sistemas. Por fim, 81 extintores tiveram suas capacidades extintoras testadas em ensaios laboratoriais, 68 (84% da amostra) testados na capacidade 20-B não apagaram o fogo, não atendendo aos requisitos da IT-21 do Corpo de Bombeiros.
SISTEMAS DE HIDRANTES
Esse item, dentro do complexo sistema de proteção contra incêndios apresenta importante interface com outros elementos do sistema, como: compartimentação horizontal e vertical, saídas de emergência, iluminação de emergência, sinalização de emergência e alarme de incêndio. Dessa forma, esse item precisa estar em conformidade com esses demais elementos para garantir o cumprimento das normas vigentes, e isso inicia-se durante o projeto executivo do sistema de segurança de qualquer edificação.
As avaliações feitas pelo LSFEx vistoriaram os seguintes pontos: verificação do projeto do sistema de suas premissas e seu atendimento nas instalações inspecionadas; realização de ensaios de funcionamento; realização de ensaios nas mangueiras de incêndio disponíveis nos sistemas. Dos 41 sistemas de hidrantes avaliados presentes nas edificações foram encontrados 31 sistemas Tipo 3; 8 Sistemas Tipo 2; 2 sistemas Tipo 5 conforme classificação presente na IT-22. Assim como ocorreu com os extintores, os sistemas de hidrantes também passaram pelos processos de avaliação do Corpo de Bombeiros e haviam sido aprovados.
O primeiro grande e grave equívoco ocorreu com o projeto legal (apresentar os subsídios técnicos básicos para a avaliação do Corpo de Bombeiros) fazer a função do projeto executivo (especificar e detalhar o dimensionamento, os componentes e os traçados da rede hidráulica a montagem, detalhamento das atividades de aceitação técnica do sistema a ser implantado e recomendações para ações de inspeções, testes e manutenções após a sua aceitação).
Também foi verificado em 100% dos casos que não existia um plano de conservação para os sistemas de hidrantes e em 48% dos casos não havia um plano que especificava os parâmetros hidráulicos adotados para dimensionamento hidráulico, inadimplindo as regras do Corpo de Bombeiros. Outro fator que contribui para as irregularidades foi de que em 24% dos casos, não foi especificado o tipo de mangueira de incêndio a ser empregada. Outra inconformidade está vinculada ao tipo de esguicho empregado (agulheta em 73% dos casos) sendo que a regulamentação da IT-22 exige a aplicação do esguicho regulável. As mangueiras testadas (1422 no total) 76% apresentaram certificação do produto voluntária por OCP e 24% sem nenhuma certificação; quando submetidas a testes hidrostático na pressão definida pela ABNT NBR 12779, 35% não tiveram desempenho suficiente comprovando a falta de manutenção desses itens (dessas mangueiras 77% das falhas ocorreram com os produtos não certificados). As medições quanto ao desempenho hidráulico também revelaram insatisfações dos sistemas, já que 49% não alcançaram o jato mínimo determinado de 10m. Todos esses pontos iniciais apresentados confirmam o quanto o desempenho dos sistemas é afetado comprometendo a eficácia em situações de emergência.
Os dados apresentados nesse artigo estão referenciados na matéria publicada pela Revista Emergência na edição de 12/2018 que apresentou mais informações que traremos ao longo de novos textos. Com as relevantes informações foi possível observar que os sistemas atuais ainda precisam de muitas ações para que consigam atingir seu objetivo máximo de apresentarem uma eficácia real quando o assunto são incêndios nas edificações. Será necessário também, a união de vários agentes e instituições para que essa realidade passe de algo frágil para projetos concretos e eficientes. A TAG Sinalização contribui para essa situação oferecendo produtos em placas de sinalização de emergência desde 2011 e trabalhando com os mais altos padrões nacionais e internacionais de qualidade.
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