Incêndios em construções históricas: quais os principais agravantes e suas prevenções
08/07/19 10h57
O Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), com sua vasta experiência na área de segurança contra incêndios, buscou pontuar algumas teses fundamentais sobre eventos de fogo em construções históricas, em específico no caso da catedral de Notre-Dame quanto para o Museu Nacional. Para o pesquisador Carlos Roberto Metzker de Oliveira, as edificações históricas podem sofrer maior influência para episódios de fogo, pois, primeiramente suas estruturas são antigas e, por isso, também possuem uma quantidade significativa de materiais inflamáveis, os quais estavam disponíveis na época de sua fundação, principalmente os localizadas na estrutura das coberturas – esse ponto foi crucial no caso da catedral de Notre-Dame, a presença desses materiais propiciou a rápida disseminação das chamas para outros ambientes e essa exposição por um período maior de tempo consumou na derrocada da cobertura. Outro ponto que pode ser levado como um agravante são as condições duvidosas das instalações elétricas que, em construções como esta, estão sujeitas a alterações com pouca preocupação em relação a novos dimensionamentos e substituição de materiais e dispositivos apropriados.
Importante salientar que os riscos, sinalizados (tanto ao olharmos para a catedral Notre-Dame quanto para o Museu Nacional), estão relacionados ao fato de nenhuma das edificações apresentarem um sistema de proteção passiva contra incêndio, o que acarretou em condições favoráveis para o alastramento e a proliferação das chamas. Os projetos de proteção ativa também eram quase que inexistentes e os poucos elementos presentes não funcionavam corretamente para combater eventuais incêndios.
A identificação desses fatores de riscos só é possível a partir de vistorias e fiscalizações constantes realizadas por profissionais habilitados e/ou órgãos adequados, como o Corpo de Bombeiros, a partir de leis, regulamentos e normas que tratam da adoção de medidas de segurança contra incêndio. No caso de edificações tombadas como patrimônio histórico, como em ambos os casos tomados como referência nessa matéria, a aceitação de ações eficazes contra o fogo é bastante complexa, isso por que, na grande maioria das situações não é possível alterar a estrutura arquitetônica e os materiais utilizados na sua construção. Dessa forma, a atualização e inclusão de materiais com comportamento apropriado na presença de fogo ou a aplicação de produtos que melhorem esse comportamento e adoção de elementos de compartimentação é praticamente impossível. Para Metzker, “para as edificações tombadas será sempre difícil, sob os pontos de vista técnico e econômico, compor uma abordagem sistêmica convencional de segurança contra incêndio”.
Outras opções para minimizar esses riscos seriam a instalação de proteção ativa por meio de sistemas hidráulicos, como é o caso de hidrantes e chuveiros automáticos, entretanto essa saída também esbarra na arguição de possíveis danos ocasionados por vazamentos acidentais ou pela operação dos sistemas em situação de incêndio. As manutenções periódicas são as ações mais seguras que podem ser tomadas e não devem ser negligenciadas pelos responsáveis. Quanto ao evento ocorrido na catedral francesa, o fato da existência de muitos produtos inflamáveis, os equipamentos da reforma que estava ocorrendo, e os grandes espaços abertos aumentaram a facilitação da propagação das chamas na mesma proporção que dificultaram o combate por parte do Corpo de Bombeiros. Características similares deste incêndio foram notadas no Museu da Língua Portuguesa, na cidade de São Paulo, em 2016. Quando o fogo alastra pela cobertura dificulta ainda mais a ação das equipes, pois, ainda há a preocupação dos jatos d’água prejudicarem ainda mais as estruturas.
O trabalho do Corpo de Bombeiros em incêndios que atingem tais proporções é restrito e, em alguns casos, escasso para controlar e minimizar os agravos aos bens culturais e científicos. Assim, é de suma importância a adoção de medidas de segurança contra incêndio em edificações históricas deve ser feita de forma abrangente, prevendo a resolução de todas as questões no âmbito técnico e cultural. Em casos de construções históricas, como a Notre-Dame e o Museu Nacional do Rio, por exemplo, alguns cuidados especiais devem ser tomados como medidas preventivas para episódios de incêndios, são elas: dificultar a ocorrência do princípio de incêndio; dificultar a ocorrência da inflamação generalizada; facilitar a extinção do incêndio, a fuga dos usuários da edificação e as operações de combate e resgate; e dificultar a propagação do incêndio no edifício e entre edifícios. Essas medidas tem por objetivo a segurança dos ocupantes; efetividade da intervenção da brigada; proteção de bens históricos/culturais/científicos; proteção da edificação, incluindo conteúdos e a estrutura; controle da propagação do fogo na edificação.
De uma maneira geral, em situações reais de incêndio, é de grande importância que se mantenha a calma, alerte os ocupantes do espaço e, em seguida, contate o Corpo de Bombeiros, através do número 193, fornecendo toda a informação solicitada de forma correta. Essa primeira etapa, pode ser realizada por qualquer pessoa que esteja presente no local no momento do evento.
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